“Se você pudesse examinar seu alimento com um microscópio, não o comeria. Os germes estão
fazendo uma festa ali, e você os está engolindo inteiros. A água que você bebe
está repleta de tais organismos” .
Paramahansa Yogananda (1893-1952)
Um adulto pode possuir até 50 trilhões de microorganismos, quase o
número de células de um organismo humano. Habitando principalmente no trato
digestivo, na proporção de cerca de 10 bilhões por milímetro quadrado no
intestino, esse exército é percebido de forma indireta, através da produção de
gases (cerca de 1 litro diário – 58% de nitrogênio, 21% de hidrogênio, 9% de
dióxido de carbono, 7% de metano, 4% de oxigênio e 1% de amônia e enxofre)
soltada à atmosfera durante todo o dia. O perfeito equilíbrio dessa flora,
juntamente com uma boa alimentação, é a chave para uma boa saúde física. Um
desequilíbrio na relação de bactérias benéficas e toxigênicas pode fazer com
que nutrientes sejam mal digeridos e sua toxinas se combinem com peptídeos,
formando complexos perigosos (disbiose).
Vários fatores estão envolvidos na gênese da disbiose. A diminuição da
acidez gástrica, que aumenta o afluxo bacteriano intestinal, o uso de
antibióticos, que mata a população bacteriana intestinal são alguns dos fatores
que causam a disbiose. A constipação gera um crescimento exagerado de
bactérias patogênicas no cólon, acarretando a sua entrada no intestino delgado,
que por sua vez, desequilibra a secreção dos sucos digestivos (insuficiência
pancreática e biliar) e diminui a motilidade intestinal, pois alguns
microorganismos diminuem a formação de serotonina intestinal (grande
responsável por tal).
Na disbiose, a cândida (Candida albicans) é o primeiro
microorganismo a se manifestar, na forma fermentativa produtora excessiva de
gases. Ela pode ocasionar enxaqueca, dor abdominal, depressão, insônia,
dificuldade de concentração e aumento da permeabilidade intestinal. Cansaço
crônico, tristeza, desânimo, alterações do sono, baixa imunidade, dores
musculares e tensão pré-menstrual também estão associados. Além disso, suas
toxinas impedem a entrada de vitamina B6 no cérebro, interferindo na síntese de
serotonina.
Os lactobacilos, que produzem todas as vitaminas do complexo B, corrigem
a permeabilidade intestinal indiretamente por melhorar a disbiose. A sua
presença cria um ambiente propício ao desenvolvimento de outras bactérias
e produção de muco, que protege as vilosidades intestinais e podem
ser ingeridos, passando incólumes pelo ambiente ácido.
Uma diminuição da acidez gástrica ou das secreções pancreáticas também
pode levar à proliferação de bactérias patogênicas, como o Clostridium
difficile, que existe normalmente no cólon. Quando em excesso, atinge o
delgado e produz uma disbiose séria. Uma toxina inibe a síntese de serotonina,
bloqueia a absorção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K), facilita a
proliferação de cândida (que piora a depressão) e altera estrutura de sais
biliares (provocando cálculos biliares e carcinogênicos).
Outros fatores podem desencadear o aumento da permeabilidade intestinal:
disabsorção. Essa síndrome pode ser causada pelo uso prolongado de
antibióticos, antiinflamatórios, anticoncepcionais ou corticóides, que fazem
com que as células intestinais percam sua adesividade intercelular, aumentando
a capacidade absortiva, inclusive substâncias indesejáveis que não são
absorvidas, como os metais pesados, toxinas bacterianas, peptídeos, radicais
livres etc. Nessas síndromes, o Clostridium difficile também
leva à disbiose, proliferação da cândida, entre outros.
Os próprios metais pesados, como o mercúrio, chumbo e alumínio, podem
danificar a parede intestinal, aumentando a sua permeabilidade. A síndrome
disabsortiva também causa a entrada anormal do colesterol da alimentação,
interferindo seu equilíbrio (causando hipercolesterolemia e obesidade).
Doenças inflamatórias intestinais (Doença de Crohn e retocolite ulcerativa) e
auto-imunes (artrite reumatóide, periarterite nodosa) relacionadas com a
absorção indevida de antígenos e a formação de imunocomplexos, causam destruição
tecidual e aumento da síndrome.
A absorção indevida de certos peptídeos (resultado da digestão
incompleta de proteínas em aminoácidos) também é causa de depressão, ansiedade,
avidez por alimentos e até mesmo convulsões. A exorfina, um peptídeo formado a
partir da caseína (proteína do leite), tem um efeito semelhante à endorfina,
produzindo avidez pelo leite e seus derivados. Fatores que aumentam a
permeabilidade intestinal podem fazer com que substâncias indevidas
(principalmente os peptídeos) sejam absorvidas e apresentadas como estranhas ao
sistema imune, gerando alergia alimentar.
Olheiras, enxaqueca, convulsões, vertigens, incapacidade de raciocinar
com clareza, hipoglicemia reacional (entidade clínica semelhante à ausência –
convulsão tipo pequeno mal), geralmente acompanhada de arritmias,
agressividade, fadiga, artralgias, distúrbios gastrintestinais e obesidade
(devido o aumento da permeabilidade intestinal), podem ser alguns dos sintomas
relacionados com a alergia alimentar. A formação excessiva de gases, com
sensação de plenitude gástrica (empachamento), em geral, também é um sintoma
relacionado, embora a ingestão excessiva de carne gordurosa, laticínios,
repolho, brócolis cru, soja, feijão, cenoura crua, cebola, cereais ricos em
fibra, pães, massas em geral e frutas como a maçã, banana e melancia também
aumentem a produção de gases.
Os alimentos mais alergênicos, em geral, são os mais consumidos, pelo
simples fato de terem mais probabilidade de serem absorvidos indevidamente pela
mucosa antes de completamente digeridos, se transformando em corpos estranhos
(alergia à proteína ou peptídeo). São exemplos o leite (caseína,
lactalbumina e lactoglobulina) e derivados, o café, o ovo, a soja, o trigo, os
frutos do mar e as frutas cítricas. Alimentos hipoalergênicos: arroz, batata,
verduras, óleo de canola e oliva, frutas não cítricas e carne de rã. Pelo
menos 20% dos esquizofrênicos possuem anticorpos IgE contra a gliadina
(proteína do trigo). É freqüente também a presença de anticorpos contra o ovo,
em pacientes depressivos.
Outra bactéria importante encontrada no trato digestivo é o Helicobacter
pilori. Ele é capaz de produzir grande quantidade de radicais livres, que
são a causa das úlceras gástricas. Esta doença é vista como a causa do estresse
e da ansiedade e não o contrário. Pode estar relacionado, inclusive, com
coronariopatias. O H. pilori vive também na boca e reproduz-se
em periodontites. Como coadjuvantes no tratamento e prevenção de suas
manifestações, antioxidantes como as vitaminas C e E, e extratos de alho e
cebola têm sido eficazes.
O sangue normalmente tem um pH que varia de 7,35 a 7,40, ou seja,
levemente alcalino. Durante a digestão, os alimentos podem dar
origem à álcalis ou ácidos e se dividem, pois, em alcalinizantes (frutas e
vegetais) e acidificantes(carnes, gorduras, leite, açúcar, álcool e
alimentos industrializados, que contêm aditivos químicos. Além disso, as frutas
e vegetais contêm elementos importantíssimos para a saúde, como os fitormônios
e os fitoquímicos.
Os fitoquímicos agem no organismo humano de inúmeras maneiras. Por
exemplo, o ácido oléico, os fenóis, o esqualeno, o triterpeno e as lignanas,
presentes no azeite de oliva, são excelentes antioxidantes com atividade
antiaterogênica, hipotensora, antineoplásica e imunológica. Já os compostos
sulfurados, contidos no alho e na cebola, baixam a pressão arterial, a glicemia
e o colesterol, além de agir como antifúngicos e antioxidantes. E também a
silimarina, na alcachofra e chicória, que tem ação hepatoprotetora e
antioxidante.
A sabedoria oriental sempre descreveu a associação do intestino com a
origem de todas as doenças. Hoje, está comprovado o efeito da alimentação tanto
no corpo físico quanto no emocional e mental. A esquizofrenia, a depressão, a
hiperatividade, os déficits de aprendizagem infantil e algumas outras doenças
mentais, podem ser atenuadas e até curadas utilizando-se de certos nutrientes.
O cuidado com o corpo e a mente começa com uma conscientização acerca da
importância de uma alimentação equilibrada. O alimento é o remédio para todas
as doenças do corpo, mas também pode ser a causa.
Nosso ritmo de vida nos faz comer apressadamente, em horários
irregulares alimentos de qualidade duvidosa, mas cômodos por já estarem prontos
(fast-foods). A publicidade contínua nos dita regras de comportamento e
de cardápio (para emagrecer, por exemplo) e nos leva a não escutar o que
o nosso corpo “diz”. O modelo alimentar industrializado pobre em nutrientes e
rico em substâncias artificiais rompeu com muitos mecanismos importantes da
digestão e absorção, gerando doenças.
A alimentação regular da quase totalidade da população é constituída
cerca de 90% de alimentos acidificantes, como churrascos, batata frita, farofa,
feijoada, omelete, pizza, biscoitos, cerveja, refrigerante, doces e sorvetes. A
composição destes alimentos introduz excesso de proteínas, gorduras (a maior
parte saturada, altamente prejudicial) e açúcares, com deficiência de
vitaminas, sais minerais e fibras.
Deixamos de ingerir água, substituindo-a por líquidos artificiais. Até o
simples ato de comer, meio de sustentação de qualquer organismo em crescimento,
se transformou num mecanismo de compensação de ansiedades e frustrações;
buscamos satisfazer nossas carências emocionais na alimentação, mesmo sem
estarmos com fome.
Manter uma alimentação saudável exige um esforço rigoroso e prolongado,
que só aquele que possui paciência e perseverança consegue obter. A verdade é
que nos acostumamos e cedemos ante as facilidades da vida moderna, ingerindo
alimentos ricos em corantes, conservantes, adubos químicos, agrotóxicos,
adoçantes artificiais, açúcares e gorduras em excesso.
Somos o que incorporamos ao corpo e a nossa aparência reflete o tipo de
dieta que temos. Dessa forma, estamos nos transformando em obesos com diabetes,
cálculos renais, problemas circulatórios, arteriosclerose etc. Os excessos
alimentares, acompanhado da obesidade decorrente, já são uma preocupação no
mundo desenvolvido. A reeducação alimentar nunca esteve tão em voga, com
diversas dietas. A preocupação com o peso é tão importante quanto a do
envelhecimento, e a ciência atual a vê como a grande causadora ou aceleradora
de ambos.
No check-up é fácil observar o que é eliminado pelo nosso
corpo: urina e fezes. A observação da forma, consistência, cor, odor, volume e
brilho, que sempre foi um indicativo da saúde do recém-nascido, deixou de ser
um hábito do adulto. Resíduos alimentares, a presença de amidos mal digeridos
(problemas pancreáticos) ou mesmo gorduras ou sangue nas fezes devem ser sinais
de alerta. Um bolo fecal não deve afundar no vaso sanitário e a evacuação deve
ser acompanhada de uma sensação de bem estar. Da mesma forma, a urina escura e
de odor fétido é sinal, no mínimo, de que a ingestão de água está deficiente.
Paramahansa Yogananda (1893-1952)
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