segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Que comportamento é esse?

Que comportamento é esse?
Por: Maria Eugênia Damaceno


...Alguns assuntos, que têm estado na mídia nesses últimos dias, têm me indignado muito e trazido muitos questionamentos que são pertinentes ao assunto.

...Temos visto pela mídia mãe que joga sua própria filha para a morte num lago público. Crime hediondo? Creio que sim, pois nada justifica sermos juízes da vida de outro ser humano. Isso é tarefa de Deus e não nossa.

...Outra mãe deixa seu filho na garagem de um hospital e está presa por isso. Outro crime hediondo? Não sei.

...Concordo que temos que ter leis para barrar nossos sentimentos de agressividade para que nossa civilização não pereça. Mas o que leva uma mãe a fazer isso com seus próprios filhos? Que comportamento é esse? Pode ser por infinitas coisas.

...Sabemos que a gravidez mexe com todo o corpo fisiológico e psíquico da mulher e mesmo muitas de nós querendo muito ser mães, não temos a mínima idéia e nem experiência do que isso será para nossa vida.

...A gravidez pode trazer estados de muita satisfação e prazer, como também, estados depressivos e de pavor. Quem de nós que é mãe que um dia não pensou em pedir para parar o mundo que queremos descer, por acharmos que não temos condições emocionais, físicas, financeiras, etc para continuarmos a cuidar de um ser que depende, durante muito tempo, exclusivamente de nós? O que é muito natural, pois estamos sempre vivendo numa corda bamba que é “como educar nossos filhos” e o que devemos realmente fazer”,, num mundo onde o que menos se valoriza hoje em dia é o meio familiar. E não podemos errar. Temos que ser sempre super mães.

...Vemos todos os dias que devemos ser atletas, viver em academias para termos sempre aquele corpinho escultural que a mídia e os homens nos cobram de sermos modelos exemplares de mulheres bem sucedidas profissionalmente, emocionalmente, sexualmente, financeiramente, como mães, donas de casa, amantes, namoradas, símbolos sexual, etc. Não podemos escolher se queremos ficar em casa cuidando de nossos filhos e do nosso lar, porque isso é careta. As mulheres que se sentem realizadas nesse contexto social, não estão enquadradas dentro dos “padrões ideais” que formaram para nós. Aposto que quem rotulou todos esses padrões foram os homens e não nós, mulheres.

...Por outro lado, desde décadas atrás, procuramos igualar nossos direitos e deveres com os seres do sexo masculino para podermos também termos liberdade de escolhas. Mas será que conquistamos realmente esta liberdade ou nos escravizamos muito mais nessa busca? Acredito que ganhamos muitos benefícios, mas perdemos muito mais em qualidade de vida do que os homens. Acumulamos muitos afazeres (conjugais, domésticos, profissionais, pessoais, maternais etc) e ficamos sem uma válvula de escape para quando nossos potes emocional, físico, fisiológico, psicológico transbordarem. Quem segura essa peteca? Ninguém, além de nós mesmas. Porque na hora que estamos solitárias, depressivas, doentes, cansadas e esgotadas de todo esse acúmulo de função, só ouvimos cobranças de todos os lados que não temos o direito de nos sentir assim. Não podemos ser nós mesmas, porque nos é cobrado a dar conta de tudo, como uma máquina, mulheres robóticas. Não podemos reclamar, pedir ajuda, porque temos que ser super-mulheres robotisadas, plastificadas, lindas, maravilhosas, sorridentes, solidárias, amantes, amigas, namoradas, cúmplices, companheiras, mães mais de 48 horas por dia. Somos até sexualmente cobradas o tempo todo de termos que estar sempre dispostas, atraentes, sexy e receptivas aos nossos homens quando eles nos querem. Mas nem sempre quando os queremos eles estão à disposição. Mas nós não podemos nos dar a esse luxo.

...Aí, aparecem mulheres que não conseguiram dar conta de seus filhos. Devemos culpá-las ou devemos analisar o que as levou a chegar a este ponto? Numa sociedade onde fazer sexo é mais importante do que construir uma família, do que cuidar de si mesma da forma que cada uma sabe e pode se cuidar, que não precisa ter um parceiro fixo para que possamos amar, compartilhar nossos medos, nossas inseguranças, vitórias, fracassos, dores, felicidades e infelicidades, construir um lar, sermos monogâmicas e eles também (porque hoje quem é monogâmico é maluco, não sabe o que está fazendo, é idiota, etc), tudo isso são banalidades para o mundo de hoje. É só faze sexo! Mas fazer sexo traz conseqüências, como doenças e a maternidade. Ninguém pensa nisso? Como então podemos ter um mínimo de equilíbrio emocional para segurar a barra de ser mãe se não há um vínculo emocional e de companheirismo com esse parceiro sexual? Como ser responsável por um ser humano indefeso, precisando de nós, mães, mais de 48h por se estamos completamente sozinhas?

...Fico pensando o que realmente provocou tal comportamento nessas mulheres que as levaram a fazerem o que fizeram? Desespero? Medos? Falta de perspectiva de poder dar o mínimo de condições possíveis e adequadas para criar outro ser? Você sabe, nem eu? As autoridades vão investigar mesmo, vão tratá-las como seres humanos, ou simplesmente colocar todas nós, vítimas dessa mesma sociedade hedionda e perversa, atrás das grades porque é mais fácil? Essa sociedade que desvaloriza os laços do casamento, os laços sociais, os laços espirituais, os laços éticos e morais, destruindo os reais valores que devíamos ter que é de sermos alguém, um indivíduo, e não de termos ou parecermos algo que eles que pareçamos, “que com certeza foram os homens que criaram esses padrões e não as mulheres”, para podermos ser pelo menos um pouco reconhecidas, vistas, amadas, valorizadas pelo que somos e fazemos e não pelo que temos e parecemos.

...Principalmente na hora da maternidade que nós mulheres mais precisamos de um colo, de afeto, de atenção, de carinho para suportarmos todo esse peso da maternidade, é que nossos homens, nossos pais, amigos, familiares e a própria sociedade num todo, nos viram as costas e ficamos totalmente perdidas porque tiram nosso chão. E agora? Como pisar com segurança e seguir a diante? Se damos mais ênfase à nossa vida profissional, somos mães relapsas, que abandonam seus filhos em creches, escolas, nas mãos de babás, etc. Se ficamos em casa cuidando deles porque eles precisam de nós e amamos ficar com eles para acompanhar todas as fases do seu crescimento, somos idiotas que não nos valorizamos como mulheres etc.

...Como mãe, passei por tudo isso também. Praticamente criei meu filho sozinha, pois divorciei do pai dele cedo e ele é um pai ausente. Sofri de depressão pós-parto, fiquei sozinha porque não tive o apoio emocional do meu ex-esposo para agüentar todas as minhas inseguranças e medos por uma situação que nunca havia passado. Graças a Deus, tenho meus pais que me apoiaram e não me abandonaram. Porém, quantas de nós podemos contar com apoio dos nossos pais ou de outra pessoas nesse momento? E mesmo assim, sabemos que nessa hora da maternidade o que mais queremos mesmo é ter o pai dos nossos filhos ao nosso lado, porque é desse apoio emocional que mais precisamos nesse momento.

...E essas mulheres? O que passaram para chegarem ao ponto que chegaram? Quem de vocês nunca se encaixou em algum item que mencionei, que “atire a primeira pedra”.

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